02/02/2011

simplismente ela

São Paulo é a cidade mais selvagem que já vi
uma grande selva artificial
Vejam quantas plantas ela tem:
de prédio, de casa, de mansão, de favela...

Olhem todos esse metrôs enraizados em sua terra
E nessa selva onde os acessos são restritos, entre Alphavilles e Alfavelas,
o esquema de pensamento "casa grande/senzala" tem que acabar,
pois nós,
Paulistanos parasitas causamos a destruição e simultaneamente
somos responsáveis pela sobrevivência da nossa selva São Paulo

É uma relação biológica de mutualismo obrigatório
Não somos só nós que choramos pela falta de condição justa de vida
Vejam quantas enxurradas de lágrimas correm na face da triste e forte
São Paulo [...]

20/06/2010

Passarinho não avôa

Sabe o que eu queria? mesmo:
Queria poder rasgar a minha pele só pra você ver como meu coração bate quando te vê ou ouve ou sente...
Queria fazer das esquinas muros e construir um caminho da sua casa até a minha.
Queria agoar todos os cafés do mundo e fazer um bem forte pra você tomar.
No inverno, esfriar a água de todas as casas e te preparar um banho quente, cheio de rosas.
Queria dizer: - Olá, eu sou a pessoa certa!
Tirar o algodão de todos os travesseiros e colocar no meu.
Queria poder gritar bem na sua cara:
- Eu sou egoísta! E tenho toda a paixão e amor que você suportar.
Mas não, eu não faço nada disso
Eu tenho tudo isso acumulado bem no meu estômago, por isso tenho que me manter sóbrea,
e não posso mais tomar café com você.

Eu sou você

Eu queria ter uma pintinha ao lado da boca
A voz um pouquinho mais rouca
Os cabelos lisinhos que só

Mas se tivesse a pinta, iria querer embaixo
O cabelo cheinho de cachos
Ser magra de dar dó

A gente quer é querer o que não tem
Enquanto querem o que é nosso
E a gente não dá um vintém


Ontem mesmo levei um susto!
Onde você está indo, minha menina?
Foi o que perguntei quando a vi
saindo por minhas entranhas, de corpo
e alma.
E entrando, então, uma mulher que eu não
conhecia, estranha pra mim.
Eu estava tão bem com a menina
mas a mulher entrou, se ajustou em meu corpo
e eu me senti mais segura
E de repente, não mais que de repente
Eu comecei a entender coisas que a menina fazia
e antes eu não entendia
Então eu chorava
Agora eu entendo tudinho, mas faço novas coisas
que não entendo
Sim, eu choro também
Aí a menina volta e diz que logo logo
vai vir uma outra mulher ainda maior
e eu vou entender tudo o que eu faço agora
Aí eu fico mais calma
[...]
Porque ela me diz que crescer é assim mesmo.

Quer saber?
De palhaça não tenho nada
Quer saber?
eu choro bem calada!


Aliás, nunca conheci um palhaço feliz
quem ri é você
Mas o que ele passa pra isso
ninguém vê


Deve ser bom pintar o rosto
e não ver a face da tristeza
Um dia experimento
vai que eu gosto


Quer saber?
De palhaça eu tenho tudo!

17/04/2010

Então eu estava num palco, cortinas de veludo vinho
chão de madeira brilhante, vestido rodado, rendado
rendado e rodado!
Eu estava bem parecida com ela: Capitu, mas não tinha olhos
de cigana oblíqua nem dissimulada, nem nada!
Talvez os olhos curiosos de Amélie Poulain, mas enfim; o príncipe
ou heroi, ou qualquer um desses que aparecem nos contos ajoelhava-se e
me dizia: - CASE-SE COMIGO, RRRROSA ENCANTADA (é, tinha um sotaque meio francês),
e então marionetes começavam a andar em círculos, como num carrossel, faziam: TOC, TOC, TOC, mas era tão real, tão real a onomatopeia que só ao acordar com a naturalidade do barulho percebi que era a marreta do pedreiro na casa em cima da minha! sem mais.

Nota: caso verídico.

03/02/2010

Poema em que Vivi

No batom vermelho a maldade
No vestido preto a vaidade
Nos olhos negros a sinceridade
O semblante é doce






Pois enquanto brinca com sinos
As borboletas a rodeiam
Pois enquanto faz malabarismos
As joaninhas a maqueiam
Pois enquanto dança nos abismos
Suas amigas a farreiam






Mas no grito da noite doce que vivi
Vi e quis o puro, o afago
Vi e quis o chili, o amargo
Vi e venci o estrago
Vi e perdi abraço
Ecoando por seu nome






O moinho moe o grão
O grão morre discreto
O café aquece o coração
O coração transpira afeto






Vivi a negar
Mas os dias que Vivi
Foram os dias que fui feliz.


Por Cássio Oliveira José






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19/01/2010

'Eu poderia ficar ali parado, olhando a mancha de café espalhar-se lenta sobre o poema, lembrando tudo o que não queria lembrar e assim, parado para sempre no meio do apartamento, enquanto vidas alheias acontecem além das janelas, fora e longe de mim, sentisse apenas mágoa, saudade e esse tipo de espanto amargo em que ninguém dá jeito, eu poderia. Mas repeti que era tarde, que eu tinha um dia de cão, que não tinha tempo e me desculpe, você sabe, esta cidade, esta vida, esta manhã.'
                                                                                                               (ABREU, Caio F.)


Genial, eu não poderia abrir minha boca ou movimentar minhas mãos hoje e dizer ou escrever algo tão sincero e concreto pro que penso ou sinto como ele o fez.
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16/01/2010

de repente árvore

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árvore, velha, alta
às vezes repleta de folhas,
às vezes escassa
e eu a acompanhava sem pudores
afinal a sua troca de estações
parecia mais interessante do que
a minha troca de amores
paixões
e pavores.
se for pra amar ou penar
que seja com todas as forças
que seja o oposto dessa previsão
sem cura
de dores e amores, folhas e flores
que seja sem base, nem fim,
nem altura
essa troca massante de braços, cascas, saliva e juramentos
que já se sabe onde vai terminar,
mas que não pode faltar,
vale mais que o vão contentamento
lamentos
indignações
tormentos
alucinações
uma repetição sem fim
que reacontece a cada sol
assim como a sombra
dessa árvore fica em mim
sem amor, sem pudor, sem dó.
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11/01/2010

Num lugar onde tudo existia:
- O que o senhor vai querer?
- Café e amor, por favor!
- E como gosta?
- Ambos quentes, fortes, de tirar o sono.
- Dos bons, os melhores que tenho.

23/12/2009

Aquele tal de natal!

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Ah, esse tal de natal
Vai saber quem sabe seu significado
depois do primeiro estouro todo mundo esquece
E fica embriagado.
É árvore decorada. Presente pra criança.
Peru e carne assada. O povo enchendo a pança.
Pisca-pisca daqui, gente que pisca e tropeça dalí.
Já teve abraço, briga e discussão,
passou meia-noite, todo mundo já de taça vazia na mão
Tá tarde, é hora de dormir, apagar a luz
Ei, mas espere aí!
Alguém lembrou de saudar o menino Jesus?
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E SE

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E se eu fosse uma escritora parasita
que escreve coisas em série, ao invés de expôr
vo-mi-ta
E se eu fosse uma escritora de viagem
produz um livro em cada língua, nunca fala de
sa-ca-na-gem
E se eu fosse, então, uma escritora assim
Quando eu morresse, alguém se lembraria
demim?
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Atire a primeira pedra quem nunca domingou
sim, aquela tarde ociosa..lenta, tudo lento
tudo, ãhn? lento? ah, é!
Lá vem o amanhã, começa tudo de novo, mas,
melhor do que hoje, o dia é mole
que sonolência, tô cochilando...
Ai! que pedrada! me acertou;
Ei, você não vale! É a-presentador de te vê.

Toc Toc Toc; Vapt Vupt..

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...que onomatopeia!
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Três é demais!

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três golinhos de água antes de dormir
três carneirinhos pulando, já adormeci
três sonhos bem longos, em um eu caí
três horas depois, acordei e sorri
Já tinha passado da hora, pensei e corri
olhei no relógio e voltei a dormir
Vovó já dizia: um é pouco, dois é bom [...] é isso aí.

Coisa engraçada

Eu tenho medo do escuro
na madrugada
E não tenho medo do futuro
mas que piada.
Um vento cheiroso passa pela janela. Um gosto de chuva. Eu me sinto jovem, ainda mais nas noites.
Ouvindo as estrelas; elas representam meus sonhos. Você vê algumas na superfície e se olhar mais, bem fundo, verá milhões [...]
Incontáveis.
É algo fantástico. Entre o estranho e o maravilhoso. Sob o sol as pessoas não parecem tão solitárias como quando ele desaparece. A solidão das grandes metrópoles. Milhares de luzes acesas [...] tédio, solidão, insônia. À noite vem o ócio criador. A noite desligamos a máquina que nos tornamos ao despertar e somos quem realmente somos.
Chove, deixa enferrujar, deixa ondular, deixa encharcar. Permita-se molhar, contagiar,cair, ouvir, beijar, sentir. Mas não resfriar!
Um guarda-chuva. Acho que não vai resolver. Não há guarda-chuva contra a vida.
A janela acesa apagou sua luz. Melhor entrar.

17/12/2009



uma boa dose de cafeína
pensamento voa com a cortina
na brisa delirante da retina















Maria do Relento

01/12/2009

Eu não sei quantos palmos separam a sua mão da minha. Nem quantos segundos ainda faltam pro tempo resolver parar com você perto, nem se ele vai fazer isso por mim; tenho sido malvada, brigando com ele o tempo todo por sua causa. Eu nunca tive vocação pra esse tipo de brincadeira, a saudade. Também não sei se você tem vocação demais ou só eu não percebi que não é brincadeira. Mas pra mim já é hora de você aparecer, mostrar que a sua pele pode ficar junto da minha, além da imaginação. Anda, eu quero acordar e não consigo. Tem um lobo correndo atrás de mim no meu pesadelo e eu sei que você vai me acordar, mas que seja logo, ele está chegando muito perto.

25/11/2009

O dia aparece cinza e frio. Ao meu lado ainda está o livro que você deixou, líamos no escuro. Não quero te devolver, talvez um dia eu o use como pretexto pra te encontrar, nunca se sabe. Minhas pálpebras ainda molhadas dos beijos que você me dava nos olhos enquanto olhava minha boca seca. Ainda não tenho fome, acordei mais cedo do que deveria, já que adormeci mais cedo do que gostaria, sem ninguém pra falar sobre sono e sonhos, ou se é a paz que gera guerra ou da guerra vem a paz.
Sustento meu corpo de pé, minhas mãos caminham pela parede áspera e longa. Ou meu olfato já não está mais tão aguçado, ou não tem mais aquele cheiro de pão torrado que eu nunca soube de onde vinha, eu sempre acordava mais tarde, então era você. Não gosto de café, mas sei como é seu amargor e sua doçura quando passo os lábios na borda da xícara que fora por ti adotada em todas as manhãs. Não sei se sinto falta, fui eu que escolhi assim. Nem sei porquê. Queria que você conseguisse me ler e soubesse me desenhar, mas eu mal me compreendo, não posso te ajudar.