19/01/2010

'Eu poderia ficar ali parado, olhando a mancha de café espalhar-se lenta sobre o poema, lembrando tudo o que não queria lembrar e assim, parado para sempre no meio do apartamento, enquanto vidas alheias acontecem além das janelas, fora e longe de mim, sentisse apenas mágoa, saudade e esse tipo de espanto amargo em que ninguém dá jeito, eu poderia. Mas repeti que era tarde, que eu tinha um dia de cão, que não tinha tempo e me desculpe, você sabe, esta cidade, esta vida, esta manhã.'
                                                                                                               (ABREU, Caio F.)


Genial, eu não poderia abrir minha boca ou movimentar minhas mãos hoje e dizer ou escrever algo tão sincero e concreto pro que penso ou sinto como ele o fez.
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16/01/2010

de repente árvore

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árvore, velha, alta
às vezes repleta de folhas,
às vezes escassa
e eu a acompanhava sem pudores
afinal a sua troca de estações
parecia mais interessante do que
a minha troca de amores
paixões
e pavores.
se for pra amar ou penar
que seja com todas as forças
que seja o oposto dessa previsão
sem cura
de dores e amores, folhas e flores
que seja sem base, nem fim,
nem altura
essa troca massante de braços, cascas, saliva e juramentos
que já se sabe onde vai terminar,
mas que não pode faltar,
vale mais que o vão contentamento
lamentos
indignações
tormentos
alucinações
uma repetição sem fim
que reacontece a cada sol
assim como a sombra
dessa árvore fica em mim
sem amor, sem pudor, sem dó.
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11/01/2010

Num lugar onde tudo existia:
- O que o senhor vai querer?
- Café e amor, por favor!
- E como gosta?
- Ambos quentes, fortes, de tirar o sono.
- Dos bons, os melhores que tenho.